Páginas

terça-feira, 10 de agosto de 2010

RESILIÊNCIA PSICOLÓGICA


por Sheila Lobato

O estresse depende de como cada pessoa trabalha suas próprias forças.
Para uns, tudo é muito fácil de superar.
Para outros, o impacto dos obstáculos e das dificuldades é quase insuportável.
A diferença é definida pelo termo resiliência
– a capacidade de se recobrar facilmente dos golpes sofridos.
“O estresse não vem dos fatos da vida,
mas do modo como os interpretamos”
Professor Pietro Trabucchi.

O mesmo evento pode ser visto e sentido de formas diferentes por diferentes pessoas, conforme resiliência pessoal de cada um. O trabalho repetitivo, por exemplo, é o mesmo para todos, mas nem todos suportam fazer a mesma coisa anos a fio. Enquanto para uns o estresse desse tipo de trabalho é enorme, para outros é zero ou quase zero. E assim podemos moldar nossa resiliência, temos também a capacidade de gerir tudo o que provoca desgaste e estresse. Esses males têm cura, e ela está dentro de nós.

Trabucchi afirma: “A pessoa resiliente é otimista, tem sempre a tendência de ler os fatos negativos como limitados no tempo e circunscritos a determinada situação. Pensa ter sempre uma ampla margem de controle sobre sua vida. Está sempre lutando por seus objetivos. Vê a mudança mais como oportunidade do que como ameaça. E, sobretudo, diante da derrota ou da frustração, nunca perde a esperança.”

Uma nota ruim numa prova pode ser interpretada de duas maneiras pelo aluno: ou ele julga que não está à altura da matéria, ou que não estudou o bastante. No primeiro caso, a resignação mitiga ou reduz de alguma forma o estresse. No segundo, a luta supera o estresse. Ao assumirmos a responsabilidade a atitude é estudar mais da próxima vez. É a atitude do combatente.

Não é fácil mudar os hábitos de pensar e agir, pois a educação recebida e o tipo de cultura em que a pessoa cresceu têm seu peso, lembra o professor. “Uma pesquisa sobre a percepção da dor em crianças anglo-saxônicas e latinas mostrou que as primeiras são mais resistentes à dor, porque na cultura delas o choro não é premiado com o colo, como em geral acontece com as crianças latinas. Elas vivem numa sociedade onde a resistência é maior, seja a uma dor de cabeça ou à frustração causada por um insucesso”, diz ele.

Incrementar a resiliência às experiências estressantes da vida moderna é fundamental para a boa saúde. Sabe-se hoje, sem sombra de dúvida, que o primeiro a sofrer com situações de estresse e tensão nervosa é nosso sistema imunológico. Por motivos que os cientistas hoje buscam descobrir em profundidade, em nossos organismos a produção de anticorpos e de hormônios protetores começa a baixar rápida e assustadoramente sempre que perdemos nosso equilíbrio e harmonia internos. De outro lado, sabe-se também que nosso sistema imunológico atua melhor quanto maior é a sensação de controle em situações que antes eram temidas. Essa sensação favorece o aumento de células T, que tem a missão de produzir anticorpos. Assim, estados mentais e psicoemocionais positivos tornam as pessoas mais resistentes a doenças. (...) “É como no esporte, em que o líder pode suportar cargas enormes de estresse, mas tem o apoio dos dirigentes, da família, dos amigos. Sem isso, sua resistência cairá drasticamente”, diz Trabucchi.

Mudar o modo de ver e avaliar os fatos afeta a bioquímica do cérebro. Os neurotransmissores influenciam o estado de ânimo e as emoções. Ver e avaliar as coisas com menos ansiedade reduz o estresse. Esse efeito também se consegue com uma dieta rica em carboidratos, como pães, massas, arroz e mel, que aumentam a quantidade de triptofano (um dos aminoácidos codificados pelo código genético; substância responsável pela promoção da sensação do bem-estar) no organismo. Essa substância, precursora da serotonina, a molécula do bom humor, reduz o nível de ansiedade nos processos mentais e melhora a capacidade cognitiva das pessoas sob estresse. Elas podem, então, modificar com mais facilidade sua maneira de ver as coisas.

Mas, cuidado. O excesso de açúcar no sangue inibe as funções mentais. E cria uma espécie de dependência psicológica: a pessoa come cada vez mais doces e carboidratos porque eles desencadeiam a liberação de beta-endorfina, substância que bloqueia a dor, e serotonina, que produz prazer. A sensação de energia e euforia dura pouco e requer doses adicionais de açúcar, criando-se um círculo vicioso que derruba a resistência ao estresse.

“Mudar o modo de ver e avaliar as coisas que nos acontecem é o suficiente. Pode não ser fácil, mas...”, conclui o professor de psicologia esportiva da Universidade de Verona (Itália), Pietro Trabucchi.



FONTE: PLANETA, Novembro de 2008.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts with Thumbnails